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UM SUAVE FULGOR 

 

Defino a arte como uma fantasia da alma em permanente dialogo com a beleza. É feita de retalhos de emoções visuais, tons, sons e poesia, pérolas líricas moradoras no oceano da criação.  Daí dizer-se, com acerto, que o artista nasce artista e o amor próprio e o destino o aperfeiçoa. Com a mesma devoção de uma garimpeiro dos mares, empenhado na busca de ostras premiadas, ele persegue o belo para encontrá-lo no colo de um poema, nas partituras cintilantes da melodia ou na magia fascinante da pintura. 

 

Na pintura, mercê de uma força criadora de que só são dotadas as criaturas especiais, Yara de Moraes surge finalmente no palco da parte da arte com a primeira mostra individual. Muitos já proclamavam o potencial de seu talento, que se aprimorava cada vez mais, na timidez do âmbito doméstico. Agora, não. Arte e artista se descobrem. Ela, como embaixadora do reino das cores, vem trazer as suas credenciais, apta a falar pelo Reinado. 

 

Yara de Moraes consegue transportar para a cena dos olhos um abstracionismo suave e harmonioso, como se executasse, em violino, uma ária de doce entardecer. Rompe, com desenvoltura, com o classicismo. Deixa à margem a fotografia em pincel e adota a paginação onírica de uma nova aurora, compondo uma pintura realmente sentida. E um apelo ao implícito dimanante das laborações da criatividade, em que a forma e a cor são dignas expressões do belo. 

 

A artista, provinda do Sul, não atende ao impulso de compor apenas um instante emergente. A engenharia do seu talento tem escoras nos dotes da natureza e em mestres magníficos, a quem recorreu para iluminar a sua vocação. Produz, por isso, uma obra densa, admirável e séria. Em futuro mais próximo o País há de falar sobre Yara de Moraes com a intimidade com que costuma tratar as estrelas nascidas para enfeitar o firmamento. 

 

 

Brasília, 1994

 

Olavo Drummond

Academia Mineira de Letras

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